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Sempre Atentos e Preparados - Por Lamberto Poelmans, MSC


SEMPRE ATENTOS E PREPARADOS

 

“Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá” (Mt 24,44)

 

Em cada ano, no tempo do Advento, a liturgia da Igreja nos mobiliza a esperar. Nem sempre caímos na conta que temos a Quem esperar. Então, nos dispersamos “esperando algo”, vivendo a lenta e inevitável fila das esperas.

Como seres humanos, fomos feitos para esperar: esperar um filho, esperar um trabalho, esperar o resultado de um exame médico, esperar que as coisas melhorem, esperar que saia o sol… Às vezes esperamos sem saber muito bem o quê ou quem esperamos.

Outras vezes, a espera se vê realizada, mas o resultado da mesma é tão frustrante, que os “esperantes” terminam por pensar se valeu a pena tanta mobilização. Existem também esperas doentias, que provocam ansiedade, medo e nos paralisam; esperas centradas em nós mesmos.

 

Esperar, para quê? a quem? de onde nasce a necessidade de esperar?

 

Vivemos tempos carregados de “pressas” que nos mantém tensos; queremos resultados imediatos e nos angustiamos na impaciência. Mas a vida cristã precisa de muito Advento, muita espera e paciência. No nosso interior brota uma voz serena: “Dá prá esperar?”

Só quem é movido a “sentir o tempo” de modo novo pode habitá-lo com intensidade em todas as etapas da vida. Cada momento esconde sua pérola e é muito instigante poder descobri-la.

A vida cristã é uma vida de espera, mas se trata de uma espera carregada de esperança. Esperar é uma forma de viver, um hábito de vida.

 

Estamos no tempo litúrgico da espera, que nos motiva a esperar, mas a esperar com esperança, sabendo a Quem esperamos; mais ainda, sabemos que, Aquele que esperamos, já chegou, que já está entre nós, que as promessas esperadas já estão cumpridas. Deus vem a nós e a nossa espera ativa é a nossa maneira de ir até Ele. Aquele que esperamos já está presente, dando um sentido de eternidade à nossa espera.

Espera que nos faz criativos, intuitivos, sonhadores... Espera que nos faz sair de nós mesmos, abrir-nos à realidade que nos cerca e crescer em comunhão com tantos que nos esperam. Espera que nos descentra. A espera revela nossa identidade, aponta para onde está nosso coração.

 

O “que” ou “quem” esperamos? Se não sabemos o que esperamos, a vida perde sabor e sentido; quem não espera, não busca, não amadurece. No supermercado da vida há muitas ofertas que pretendem preencher o vazio da espera, mas não tem consistência, não nos saciam, não nos preenchem, e não nos indicam um horizonte de sentido. O maior inimigo da espera é a dispersão, ou seja, apego ao imediato e à rotina da vida: “comer, beber, casar... como nos tempos de Noé”, Vivemos tempos de dispersão, cativados pela mídia, pelas ofertas alucinantes... Isso corrói nossa interioridade, nossa visão se atrofia e o horizonte fica obscurecido. A espera vigilante implica ampliar o olhar para além dos nossos pequenos interesses.

 

Advento não é aguardar Alguém ausente; mas despertar para se fazer presente Àquele que está sempre presente. Esperar é “estar acordado”, no sentido de estar atento e também no sentido musical de “estar afinado”, sintonizado com a Presença que se “desvela” sempre inesperada, surpreendente e provocativa.

Ele é caminheiro fiel na grande peregrinação que fazemos ruma à casa do Pai.

Ele é o Emanuel, o Deus-conosco com quem descobrimos sempre de novo quem somos, o que queremos e para onde vamos.

Que Deus nos ajude na preparação para a vinda do Senhor.



       Pe. Lamberto Poelmans, MSC*  



*MSC a mais de 50 anos, nasceu na Bélgica e veio para o Brasil no início de seu ministério, atualmente mora em Curitiba no Seminário de Postulantado onde é diretor espiritual e auxiliar no Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração - Pinheirinho.