Celebrando dia do Trabalhador e abertura da pesca da Tainha - Florianópolis

Caros irmãos e irmãs

Celebramos hoje o dia o primeiro de Maio, um dia de reivindicações e de busca pela dignidade e justiça no trabalho. O papa Francisco nos diz que "A sociedade não é justa se não oferece a todos um trabalho ou explora os trabalhadores" (Catequese na festa de São José Operário e dia do trabalho - 2013).

Hoje escutamos o Evangelho que nos apresenta Jesus como o "Filho do carpinteiro". José era um trabalhador e Jesus aprendeu a trabalhar com ele. O Livro do Genesis nos diz que Deus trabalha para criar o mundo. Esta imagem de Deus trabalhador nos diz que o trabalho é algo que vai além do simples ganhar o pão. O Trabalho é a participação na obra da criação, é o trabalhar com o Criador.

O Papa Francisco afirma que o trabalho nos dá dignidade. Quem trabalha é digno, tem uma dignidade especial diante de Deus e da sociedade. Por outro lado, quem não trabalha não tem essa dignidade. Mas podemos nos perguntar: por que não trabalham? Muitos querem trabalhar, precisam trabalhar e não podem. Só no Brasil segundo as ultimas estatísticas, 14,5 milhões de desempregados. Isso é um peso na consciência, é um grave pecado social, pois a sociedade se organiza de tal forma que nem todos tem a possibilidade de trabalho, de serem dignos pelo trabalho. Isso revela que nossa sociedade não está bem, não é justa, está contra o projeto de Deus.

O que é essa dignidade? Não é ter poder, dinheiro. É ter a dignidade de contribuírem para a obra do Criador. Hoje, inclusive no nosso país, se criou um sistema social, político e econômico, que escolheram o caminho de exploração da pessoa humana.

A lógica que impera determina o grande pecado cometido: Não pagar o que é justo; não dar trabalho, porque o olhar está somente nos balanço das empresas e no lucro cada vez mais alto, o olhar vai somente ao que eu posso lucrar. Isso é pecado, vai contra Deus.

Quantos tentam sobreviver somente com um salário mínimo, famílias inteiras nesta condição? Isso se chama escravidão, é a escravidão do nosso tempo. Essa escravidão se faz com o que Deus deu ao homem de mais belo: a capacidade de criar, de trabalhar, de construir a própria dignidade. Quantos não estão nesta situação, no mundo e no nosso Brasil? Culpa deste comportamento econômico, social e político.

Este dia primeiro de maio, é tratado como o dia do trabalho. Uma forma errada de celebrar este dia, pois olhando a história percebemos que este é um dia de luta da Classe trabalhadora. Procuremos olhar a história e celebrar este dia com o seu real significado, buscando o bem comum e, acima de tudo, o Reino de Deus e sua justiça.

Como surgiu este dia? A história nos conta que milhões de pessoas trabalhavam das 6 da manhã às 10 da noite, ou seja, 16 horas por dia, seis dias por semana, recebendo salários miseráveis, morando em condições precárias, estando frequentemente doentes e não tendo nenhum direito garantido por lei (parece muito com o que querem fazer hoje em nosso país). Assim era a condição dos trabalhadores, entre os quais crianças e mulheres.

Houve então a necessidade de organização, os trabalhadores começaram a exigir 8 horas de trabalho, e fizeram isso através de manifestações e organização, para garantir este e outros direitos. Assim na cidade de Chicago, nos Estados Unidos, o dia primeiro de maio de 1886, foi marcado como o dia de greve, milhares de trabalhadores saíram às ruas, reivindicando a redução da jornada de trabalho.

É claro que foram, e continuam sendo reprimidos. Muitos mortos e alguns condenados à prisão perpétua. Assim 3 anos depois, um grande movimento surgiu. Um grande encontro de trabalhadores foi realizado na França. Declarando-se o dia primeiro de maio como o dia de luta, dia de sair às ruas para exigir os direitos dos trabalhadores.

Desde encontro se espalhou pelo mundo a luta da classe trabalhadora. Se hoje temos alguns direitos garantidos, podemos dizer que foi graças a essa luta. Nossa luta continua, porque ainda temos muito que conquistar como direito.

No Brasil, hoje a maioria dos deputados e senadores, por serem grandes empresários ou financiados por empresários, decidem leis a seu favor, que prejudicam a classe trabalhadora. Vejam a Lei de Terceirização; a Reforma trabalhista e a Reforma da Previdência. Tudo isso tem como resultado cortar direitos adquiridos, fragilizar a organização dos trabalhadores.

Perguntemo-nos: não estaria outras decisões, no Congresso, de caráter trabalhista e político, voltados para essa mesma lógica? A fragilização dos trabalhadores e seus direitos. Se ficarmos como meros expectadores dessas decisões, ou ingenuamente favoráveis, em lugar de conquistarmos novos direitos, iremos perder o pouco que temos.

Então celebrar este dia, é continuar a luta por melhores condições econômicas e pela ampliação de direitos sociais.

Assim, caros irmãos e irmãs, em lugar de churrasco e futebol de empresas, que tal no envolvermos em atividades que possam esclarecer o momento político que vivemos, e suas consequências para o futuro da classe trabalhadora.

Vamos olhar isso tudo na perspectiva da fé cristã, lutar em favor do que é justo para a classe trabalhadora significa lutar em prol do bem comum, que sinaliza o Reino entre nós.

“Não esqueçamos de que o Filho do operário: Veio para que todos tivessem vida e vida em abundância”.

Padre Mauricio Serafim da Costa – MSC.

Missionário do Sagrado Coração.

Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Lapa.